Soluções para melhorar relações intra e interpessoais

Soluções para melhorar relações intra e interpessoais

Passamos uma boa parte do tempo a relacionarmo-nos com os outros mas nem sempre da melhor forma. Será que o problema está em nós ou nos outros? Como conviver bem com pessoas difíceis? Afinal, o que podemos fazer para construir bons relacionamentos na vida e no trabalho?

Para responder a estas questões, entrevistamos a psicóloga clínica Angela Escada, autora dos livros ‘S’, ‘Emoções’ e ‘Autoestima com Inteligência Emocional’.

AS – Como vê as relações interpessoais no mundo atual? Estão a melhorar ou a deteriorar-se?

AE – Nestes tempos modernos, eu sinto divisões. Há grupos que valorizam muito os relacionamentos e se disponibilizam a aprender mais e mais sobre empatia, partilha, solidariedade e o conceito muito divulgado hoje do amor incondicional, que é ato de não criar condições, exigências para se amar um ser humano. Ama-se a sua essência. Deixamos de gostar de um determinado comportamento daquele ser humano, porém o amor continua lá. Neste grupo acredito que as relações interpessoais estão a melhorar e muito.

E há outros grupos que na sua escala de valores está o vício pelo trabalho, o sucesso, o armazenar dinheiro, a cultura do TER e com isto não conseguem o famoso TEMPO para se dedicar à cultura do SER. São escolhas. Neste grupo acredito que as relações interpessoais estão a piorar.

AS – Há pessoas com as quais temos de lidar mas que não são de relacionamento fácil. Qual é o segredo para conviver bem com pessoas difíceis?

AE – Um segredo importante é não agarrar a mensagem emocional que um ser humano difícil emite nos diálogos e nas situações. Ao fazer isso, assegura que mantém a sua individualidade e não aceita a mistura da história de vida desse ser humano de comportamento difícil, com a sua própria história de vida, que tem uma visão mais serena da vida.

É o mesmo que dizer que não é o outro quem define como nós queremos funcionar ou reagir, ou até mesmo nem reagir. Um ser humano de comportamento difícil pode ter uma crença inconsciente limitante de que “viver é sofrer” ou “viver é difícil”. Se tem a crença de que “viver é desfrutar” ou “viver é simplificar”, isto é ótimo porque esta sua crença fortalecedora, afasta a possibilidade de se envolver num relacionamento com um ser humano difícil.

Neste exemplo temos a clareza da divergência nas crenças aprendidas por cada ser humano, portanto interaja com o ser humano de comportamento difícil apenas no que é necessário e indispensável. Está nas mãos dele a decisão de querer mudar a crença limitante dele. E está nas suas mãos a decisão de não se envolver nas dificuldades desse outro ser humano. São escolhas. Faça a escolha certa.

AS – Quantas vezes apontamos o dedo ao outro mas nós próprios é que somos a pessoa difícil. O que é necessário para tomar consciência disso e dar a volta à situação?

AE – Para tomar consciência é importante estar atento a si mesmo, como ser humano, em cada papel social que desempenha, nas diversas situações do dia-a-dia.

Um hábito que ajuda imenso é aprender a ouvir para compreender. É muito usual no ser humano ouvir para retrucar. Um bom caminho é ouvir para compreender e só esperar receber a compreensão do outro, depois que conseguir compreende-lo.

Para treinar este hábito, há uma atitude benéfica de no final do dia perguntar-se “eu ouvi e compreendi todas as pessoas que falaram comigo hoje?”, autoanalisar-se com sensatez, encontrando os pontos fracos desse dia ou de uma atividade em especial e definir uma nova postura a assumir numa próxima situação. Se soube ouvir, o que fez com o que ouviu. Dá algum trabalho, porém merece esse investimento em si.

AS – Que atitudes e comportamentos podemos desenvolver para melhorar a relação com nós próprios e com os outros, tanto na vida pessoal como profissional?

AE – Podemos iniciar um processo de autoconhecimento gradativo, isto é, conhecer o que nos incomoda em cada situação, o que precisamos melhorar e a partir de então, empenharmo-nos para alcançar as melhorias necessárias para a nossa mudança, que por conseguinte irão facilitar a relação com outros seres humanos.

Em primeiro lugar o investimento é na inteligência intrapessoal. Se o EU comigo está harmónico, estamos muito mais preparados para lidar com o outro. Por exemplo, se aprendeu a não confiar totalmente em quem trabalha consigo, mesmo estando com excesso de trabalho, não confia em delegar uma tarefa para o seu parceiro de trabalho, então, ao identificar este traço de desconfiança em si, pode trabalhar-se para encontrar os motivos que o levam a ser desconfiado e a resolvê-los dentro de si.

Lembre-se que, ao não confiar em quem trabalha consigo, terá um consumo energético muito grande e terminará o seu dia muito mais cansado. Assim que conseguir delegar uma tarefa, a relação com o outro ficará mais harmónica, porque a sua “mensagem” é de que agora já consegue confiar. E todos saem a ganhar!

AS – Como é que podemos ativar o bom humor e o sorriso no dia a dia, mesmo quando as circunstâncias são de adversidade?

AE – É mesmo uma questão de atitude diante da vida. Cada ser humano vive consigo próprio durante 24 horas do dia, e merece viver ao lado de um ser humano bem-humorado, leve, livre, solto. Está nas mãos de cada um viver mais leve.

Para ativar o bom humor podemos nos manter conectados com o que é positivo e com outros seres humanos bem-dispostos. Os encontros com a natureza também são muito benéficos. Podemos também manter-nos protegidos com músicas que despertam o bem-estar interior, praticar alguma atividade física, frequentar sessões de Yoga do Riso, assistir palestras motivacionais, filmes lúdicos, assim como também escolher alimentos que estimulam o bem-estar.

AS – Que conselho gostaria de deixar aos leitores do VIPP?

AE – Lembrem-se que tudo que damos importância… cresce! Por isto, dê importância a si mesmo! Dê importância ao que é positivo! Dê importância à melhoria dos relacionamentos!

Livro recomendado: S de Angela Escada

Sinopse: Este livro é uma conversa com o leitor, uma partilha. Esta conversa aborda a necessidade de sabermos lidar com pessoas difíceis, inclusive quando essas pessoas difíceis somos nós próprios e, assim, o título nos leva a vários “S”. O primeiro “s” é de Sabedoria, na procura se Soluções Saudáveis, que conduzam as partes envolvidas à Satisfação e nos mantenha Sempre com um Sorriso de Sucesso interior, com muita Simplicidade.

Páginas: 132, Ano: 2008, Editor: Raridade, ISBN: 978-989-95161-7-5




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