A arte de ter ideias criativas
A criatividade ajuda-nos a encontrar soluções para diversos desafios do dia a dia e a ter ideias que, quando bem implementadas, podem melhorar substancialmente a vida das pessoas, o desempenho das organizações e o funcionamento do mundo.
Até aqui não há novidade alguma. A grande questão é: como ter ideias criativas?
Para compreender melhor este fenómeno, entrevistamos Vitor Briga, autor do livro “De Clone a Clown – a arte de ter (e vender) ideias criativas”.
AS – O que distingue as pessoas criativas das outras?
VB – O que distingue as pessoas criativas das outras é a habilidade para se colocarem mais facilmente num determinado modo de pensar e agir no qual se permitem brincar com os seus pensamentos, com quem os rodeia e com o mundo. Chamo a este modo de pensar de “modo clown“, devido à minha formação teatral, especificamente a de treino de palhaços, em que me apercebi que ficava mais livre, espontâneo e criativo sempre que libertava o meu clown ou “palhaço interior”.
AS – Como é que se consegue passar do “modo clone” ao “modo clown“?
VB – No meu livro descrevo diversos comportamentos e hábitos que ajudam a fazer essa mudança. O mais importante é ter em conta que temos em nós os dois modos e que o último está adormecido, mas pode ser despertado a qualquer momento. “Basta”, para isso, interromper a tendência para pensar, e fazer, como a maioria, e ter a coragem, e a energia, para seguir a nossa intuição e as nossas ideias, mesmo quando vão contra os “guiões” pré-estabelecidos e as expetativas de quem nos rodeia. Isto implica dar-me autorização para ser livre, jogar com o mundo, estar atento às oportunidades do acaso, sair do meu espaço de conforto, não ter medo do ridículo, ter curiosidade e prazer em explorar coisas diferentes, fazer associações inesperadas, e, acima de tudo, manter o entusiasmo, e a gratidão, pelas possibilidades da vida.
AS – De onde vêm as ideias criativas? Como funciona o processo criativo?
VB – O processo criativo é muito fluido e tem muitas inquietações, evoluções e retrocessos, mas se tivermos que categorizar as fases por que passamos até ao momento da ideia, elas seriam:
1. Apreensão – é a fase em que detetamos um problema a resolver ou sentimos a necessidade de inovar em algo;
2. Preparação – é a fase em que estudamos, pesquisamos as soluções já existentes sobre o assunto e trabalhamos conscientemente (e arduamente) para encontrar uma solução original. É a fase da “transpiração”;
3. Incubação – esta fase implica que se deixe de querer pensar constantemente no assunto e que se relaxe, para permitir que a nossa mente inconsciente busque respostas e relacione o problema com o vasto depósito de experiências, conhecimentos e fantasias que estão latentes em nós, combinando assim hipóteses e fazendo associações imprevisíveis sem a censura da mente consciente. É o momento de “dormir sobre o assunto”.
4. Iluminação – este é o momento em que, quando menos esperamos, temos “A Ideia”, pois como resultado das fases anteriores vem à nossa mente consciente um insight criativo, uma inspiração, simbolizada pelo famoso “Eureka” de Arquimedes.
5. Verificação – esta é a fase em que vamos fazer a nossa ideia passar pelo teste do “mercado” e perceber se ela é só original, ou se também é útil, se resolve efetivamente o problema e gera valor para os outros. É o momento em que a criatividade pode passar a ser inovação.
AS – Por vezes, as boas ideias surgem em momentos inesperados. Porque é que isso acontece?
VB – De facto, nunca nenhum empresário me disse que teve as melhores ideias no escritório, onde seria esperado. Habitualmente, dizem-me que tem ideias originais quando estão a conduzir, a passear, a tomar banho, a brincar com os filhos, etc.
Tal está relacionado com o facto de, quando estamos a trabalhar, nos sentirmos muitas vezes demasiado ansiosos, pois o stresse obriga-nos a ser práticos e a tomar decisões rápido. A criatividade, no entanto, precisa de algum tempo de “devaneio” mental.
Podemos relacionar isto com a atividade elétrica do nosso cérebro: quando estamos ativos e concentrados, produzimos padrões de ondas cerebrais conhecidos como Beta. Quando começamos a relaxar e a sentir um bem-estar calmo e tranquilo estamos na área conhecida como Alfa. Ora, as ideias mais criativas surgem quando estamos em Alfa. É por isso que no nosso quotidiano, e no nosso trabalho, devemos encontrar formas de abrandar e fazer, por exemplo, meditação, desporto, brincar, passear, estar em contacto com a natureza, ouvir música agradável, etc., para que possamos passar de Beta para Alfa regularmente.
AS – Como é que as organizações podem estimular a criatividade dos seus colaboradores?
VB – Uma vez estava em Nova Iorque a receber um curso e tinha um colega que era chefia da Apple. Como na altura estava a escrever o meu livro, perguntei-lhe por que razão achava que as pessoas na sua empresa são tão criativas. Depois de um silêncio prolongado, a resposta foi, sem hesitação, “Because we are allowed to!” Creio que não poderia ser mais simples. O primeiro passo para estimular a criatividade dos colaboradores é permitir que eles sejam criativos, deixá-los ser quem são e ouvir as suas ideias. Depois, ajudará bastante, encontrar processos estruturados que criem uma cultura organizacional cooperativa em que a dar ideias seja um hábito e em que as melhores soluções sejam implementadas e recompensadas.
AS – Muitas boas ideias ficam guardadas na gaveta. O que é necessário para colocar uma boa ideia a funcionar?
VB – Coragem, paciência e flexibilidade. Coragem para avançar e colocar a ideia em prática, sem duvidar, mesmo correndo o risco inerente do “fracasso”; paciência para esperar pelo seu momento e para lidar com as dúvidas e resistências dos céticos e daqueles que estão quase sempre no “modo clone”; e flexibilidade para saber adaptar a ideia à realidade, para ouvir e dialogar com os nossos parceiros que, ao discordar de nós, nos podem estar a dar ótimas dicas para melhorar a nossa ideia, ao torná-la mais útil e aplicável. Como eu gosto de dizer aos meus formandos nesta fase: “start with an ideal and finish with a deal!”
Livro recomendado: De Clone a Clown de Vitor Briga
Sinopse: Quer pensar em formas mais positivas e criativas de fazer as coisas? Quer surpreender os seus clientes?
Neste livro encontrará vinte e seis comportamentos e hábitos práticos, numa linguagem clara e sucinta, que o ajudarão a ter (e vender) ideias mais criativas. São o resultado da aprendizagem clown do autor, da análise de ideias de sucesso, e da sua vasta experiência como formador em diversas empresas.
O treino regular destes hábitos vai libertar a sua criatividade pessoal, aumentar o desempenho criativo das equipas de trabalho e, como consequência, tornar a sua organização mais inovadora.
Só precisa de libertar o seu palhaço interior. Joga?
Páginas: 224, Ano: 2012, Editor: Vida Económica, ISBN: 9789727885152
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